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Os mais antigos vestígios que testemunham a presença do homem na região, datam do período da dominação romana quando toda a Península Ibérica estava sob o jugo das hostes imperiais.
Exemplos disso são alguns cipos funerários, telhas, tijolos, utensílios de vidro e metal, moedas, etc e, até restos de calçada que, em diversos pontos do concelho, foram encontrados sobretudo nas proximidades ou mesmo já dentro dos perímetros urbanos da Lousã e de Serpins.
Sabemos hoje também que na Serra e no Vale do Ceira houve nesses tempos remotos, explorações auríferas importantes.
Com as invasões dos povos de origem germânica, o Império Romano fragmentou-se e pouco a pouco foi-se apagando o brilho da sua civilização e da sua cultura, não só na cidade imperial, mas também por todas as províncias. Para atestar tal facto faltam-nos os testemunhos materiais e mesmo documentais.
Data de 943 um contrato realizado entre Zuleima Abaiud e o Abade Mestúlio do Mosteiro de Lorvão onde, pela primeira vez, nos aparece o topónimo ARAUZ que designa a povoação mais importante dessa altura em toda a região, localizava-se junto ao morro onde se levantaria mais tarde o Castelo de Arouce.
Lembremos que Coimbra era, nesse tempo, bem como seria ainda nos dois séculos seguintes, um importantíssimo centro moçárabe, com uma cultura viva e uma atividade económica bem mais desenvolvida que a das outras povoações a norte do atual território português.
Só com a pacificação do Vale do Mondego, já no século XI, é que o desenvolvimento da bacia da Lousã deve ter ocorrido, quando as gentes já não necessitavam de estar constantemente à sombra dos muros do Castelo para, rapidamente, se albergarem e refugiarem, ora do fossado vindo do norte, ora da algarada vinda do Sul.
Ao alvazil D. Sesnando ficamos a dever não só a pacificação do território e a sua defesa, mas também e principalmente a sua profunda reorganização, na qual se incluiu a construção ou reconstrução de diversos castelos, como o de Coimbra, e ainda os de Montemor-o-Velho, Penela, Penacova e naturalmente o da Lousã/Arouce.
Se a História nos dá informações secas e precisas, já o mesmo não acontece com a lenda que envolve o passado num manto maravilhoso de enredos.
A origem da Lousã faz-nos viajar até ao tempo longínquo da dominação muçulmana, quando um rei ou um emir de nome Arunce teria fundado o castelo para proteger a sua bela filha Peralta, enquanto ele se encontrasse em campanha no Norte de África.
O território de Arouce, cujo Castelo já era mencionado no Foral de Miranda do Corvo (1136), é contemplado por D. Afonso Henriques com um Foral em 1151.
Num outro documento régio, em 1160, alude-se à Lousã independentemente de Arouce, bem como a Vilarinho, o que prova que a bacia lousanense e a escarpa de Arouce com o seu castelo eram realidades distintas. Alvará de Licença de D. João III, de 23 de maio de 1537, para os moradores da Lousã fazerem o Bodo de São João.
(original que se encontra no Arquivo Histórico da Biblioteca Municipal da Lousã.
A Lousã, na Idade Média, continuou a prosperar e, como tantas outras terras do reino, viu o seu velho foral confirmado em tempo de governo de D. Afonso II, conjunto de normas, privilégios e deveres que estariam em vigor até aos alvores do Mundo Moderno pois só em 1513 viria a ser revogado com a entrada a 25 de outubro desse ano, de nova carta dada por D. Manuel I.
Foram Senhores da Lousã: D. João Afonso, filho bastardo de D. Diniz; o príncipe D. Pedro, duque de Coimbra, cujas tropas junto de Serpins e Vilarinho se prepararam para dar combate ao exército do seu meio irmão, o duque de Bragança, D. Afonso; Pedro de Góis; Pedro Machado; Francisco Machado; D. Jorge, filho de D. João II e fundador da Casa Ducal de Aveiro, entre outros.
Foi porém no século XVIII que a Lousã mais prosperou, passando de uma modesta e incaracterística vila a uma florescente povoação, com ruas ladeadas de novas edificações de bom traçado, onde viviam as famílias nobres. A criação local da indústria do papel, o Engenho de Papel do Penedo, e os seus produtos daqui saídos eram de tal qualidade, que já em 1716 fornecia a prestigiada tipografia da Companhia de Jesus de Coimbra, sendo depois grandes clientes das unidades fabris da Lousã, a Tipografia Académica fundada pelo Marquês de Pombal e a Casa da Moeda.
Outras fábricas se vieram a criar dentro dos limites concelhios. Em 1868 foi a vez da Fábrica do Boque ser fundada em Serpins, funcionando aí a primeira máquina de fazer papel contínuo que houve em Portugal. A Fábrica do Casal de Ermio funcionou entre 1853 e 1890, sendo depois adquirida pela Fábrica do Penedo e transformada em central elétrica.
Outras indústrias foram a da fiação, nomeadamente em Foz de Arouce, e a produção de energia. Moagens, Licores, serrações, serralharias e diversas outras indústrias, que diversificaram a vocação essencialmente agrícola do concelho, em detrimento do setor primário.
A emigração, sem esquecer a imigração para Lisboa, iniciada para o Brasil em finais do século XIX, progressivamente alongada para os Estados Unidos e culminando mais recentemente, para a Europa, trouxe à Lousã uma nova perspetiva em desenvolvimento em várias áreas.
A inauguração do Caminho de Ferro em 1906, quebrou o isolamento com Coimbra. Complementado posteriormente com a abertura de novas vias de comunicação. Em 1924, foi inaugurada a energia elétrica.
Momento difícil na vida dos habitantes da Lousã, desde há séculos habituados a uma vida pacífica, foi o das Invasões Francesas, no início do século XIX.
As perturbações fizeram-se sentir principalmente por altura da terceira invasão, em março de 1811, quando já se dava a retirada dos exércitos comandados por Massena. Esta retirada fazia-se pela estrada de Almeida, a estrada real que ligava a capital do reino a Espanha, e que passava pelas povoações de Miranda do Corvo, Foz de Arouce e Ponte da Mucela. Com o fito de recolher fundos, isto é, efetuar pilhagens, alguns destacamentos desviaram-se do caminho normal em Arneiro e, na Lousã e noutros lugares da Serra, saquearam e destruíram casas, celeiros, igrejas, enfim tudo aquilo com que deparavam.
Da vila propriamente dita levaram muita prata da Igreja Matriz, nomeadamente a rica banqueta e a custódia que o Padre Cáceres havia doado ao templo, no século XVI, para além de bens de muitos particulares.
Como o rio Ceira levava muita água nessa altura, a retirada das tropas francesas teve de ser feita através da pequena ponte de Foz de Arouce, o que muito as demorou, permitindo a chegada dos efetivos do exército anglo-luso, constituindo um rude golpe para o inimigo.
A área do concelho tem variado consideravelmente. Por exemplo, Serpins constituía um Município autónomo enquanto, em contrapartida, no lousanense chegaram a estar incorporados Semide, Rio de Vide e até Miranda do Corvo, posto que por breve período.
A vila tradicional circunscrevia-se a umas quantas ruas, em torno do largo da velha e desaparecida Matriz, dos Paços do Concelho e Tribunal, nomeadamente as que têm hoje os nomes de Viscondessa do Espinhal, das Forças Armadas e Rua Nova, onde aliás se podem ver os mais belos solares barrocos. Aí ficavam a Misericórdia e os outros edifícios de interesse público.
Um pouco mais despegado estava o Casal do Rio ( Casal dos Rios) com o seu belo palácio e moradias envolventes.
Praticamente, só no fim do século XIX é que a Lousã começou a transbordar do espartilho setecentista, abrindo-se novas artérias que foram permitir a expansão das vivendas para locais mais desafogados, e também para a construção de importantes equipamentos coletivos: o Hospital, a funcionar desde 1888; a nova Igreja Matriz, também do fim do século; o matadouro, de 1893; o velho Teatro, etc.
Porém, nas últimas décadas, o espaço ocupado pela Vila quase duplicou, ganhando novas áreas, sempre desafogadas e de correto traçado, onde se edificaram os modernos bairros habitacionais, estabelecimentos de ensino primário e secundário, o quartel dos bombeiros, o novo palácio da justiça etc.
Apesar da faces modernas destas zonas, o casco antigo continua convenientemente preservado, com as suas velhas casas apalaçadas, de janelas de belos e recortados aventais, de imponentes portais e de orgulhosos brasões nas vergas interrompidas. Lado a lado coexistem os testemunhos de um passado querido e o produto da dinâmica dos dias de hoje e das gentes empreendedoras.